Bárbara Mançanares

foi preciso matar o irmão
escavar o corpo da serra
traçar paralelas nos ossos da serra
para criar topônimos

foi preciso matar o irmão
para dissolver os mesmos ossos
represá-los em pequenas conchas para que os rios naufragassem
e hasteassem sobre eles nomes valas gradis

foi preciso matar o irmão
para repousar as vértebras no que brota da terra
mas também naquilo que há de mais primitivo na geologia urbana
para que criássemos distâncias semânticas o bastante entre
habitar morar viver entre a mesa posta o gosto de urina no corpo
o fato que certos cheiros não deixam de morar na língua
pela vontade de esquecer o que se avoluma nas calçadas

foi preciso matar o irmão
enganar o deus
traçar rotas para o leste
para que caim brincasse de criar cidades
em papel A3.

BÁRBARA MANÇANARES nasceu em Alfenas e cresceu nas ruralidades de Paraguaçu, Minas Gerais. É poeta, bordadeira e integrante da Academia Paraguaçuense de Letras. Possui graduação em História (UFOP) e mestrado em Museologia e Patrimônio (UNIRIO). Inscreve com as linhas e as letras o que suspeita no mundo. É autora do livro Maio (Quintal Edições, 2018), Cartografias do corpo que canta (Patuá, 2021) e também possui poemas publicados em antologias e coletâneas - Antologia Ruínas (Patuá, 2020) e Tomar Corpo (Editora Jandaíra, 2021).

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