Oliênina [?] desce do Parnaso

Felipe Franco Munhoz

Oliênina [?] desce do Parnaso [1] ------------


------------ Púchkin:
                                                  Oliênina [?]:

               Amei você: um amor, talvez, que ainda,
                                                  Amor? Abrande excessos. Vã saudade.
               aqui, de todo, não se desgastou;
                                                  A valsa a dois, velado ardil?.. Fugaz.
               porém, retiro o estorvo - angústia finda;
                                                  Chorei? Vulgar paisagem - cisco invade!
               poupar-lhe de qualquer tristeza, eu vou.
                                                  Tristeza alguma, ao raso rastro, atrás.
               Amei você da calma à louca agrura,
                                                  Meu peito (oculta choça), pura tripa.
               ciúmes e vergonhas, tanto mal;
                                                  Deleite: obtive Corpo, Língua, Pau.
               amei você tão franco e com ternura:
                                                  Mas: sempre: o passatempo, em si, dissipa.
               que Deus lhe dê o amor de um outro, igual.
                                                  Constante, aprenda, a graça rui. Brutal.



[1] Aleksandr Sierguéievitch Púchkin (1799-1837) provavelmente escreveu o poema que neste Oliênina [?] desce do Parnaso é o texto à esquerda, para Anna Alieksiêevna Oliênina. A única possível fusão silábica entre versos acontece - tanto no original, em russo, quanto nesta proposta de tradução, à esquerda; e, também, na proposta interventiva, à direita (apresentando uma voz ficcionalizada da provável musa, respeitando a métrica original) - entre os versos 1 e 2; ou seja: ao segundo verso, liga-se o primeiro, sem, digamos, a interrupção provocada pela sílaba que sobra nas palavras paroxítonas. O poema puchkiniano é uma composição não posterior a novembro de 1829; foi publicado, pela primeira vez, no almanaque Северные цветы (Flores do norte), em 1830.


Felipe Franco Munhoz nasceu em São Paulo, em 1990. É autor dos livros Mentiras (editora Nós, 2016) e Identidades (editora Nós, 2018). Para 2021 e 2022, Franco Munhoz prepara: seu terceiro livro, Lanternas ao nirvana; a performance audiovisual Parêntesis (com Natália Lage e André Mehmari), a partir de texto homônimo do livro; uma tradução de poemas de Púchkin; além do lançamento de seu trabalho como cantor e compositor - com faixas produzidas pelo galês Paul Ralphes.

foto: Helena Franco

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