Minha carne não é de carnaval

Renata Tupinambá

Eles têm medo que as coisas peguem fogo quando elas precisam queimar para mostrar que estão vivas. Eles têm medo que o mundo acabe, não compreendem que estamos de passagem em um cenário do antropoceno.

Eles buscam tudo que é previsível.
Eles não desobedecem ordens de cima.
Eles disputam espaço e fazem lobby político ao bel-prazer de seus desejos não coletivos.
Eles mudam de time como trocam de camisa, falta clareza em seus olhos cegos por coisas materiais, que possam consumir para saciar o que nunca vai os apetecer.
Eles fodem nossa boa vontade.
Eles matam os 'nós' todos os dias com os 'eus'.
Eles matam coisas vivas todos os dias.
Eles fazem milícias mas também são o narco, exploram corpos e desovam corpos.
Eles estão em todos os lugares.
Eu não sei quantas pessoas vocês tiraram de 'nós'.
Quando sorrio significa que estou pronta para a morte, mas que a vida é muito mais forte.
Eles não são os 'homens' mas a força de toda uma estrutura sistêmica que torna todos iguais, independentemente de suas genitálias.
Não sejam como eles, aprendam a ser nós para desatar tantos eus estruturais fabricados.
O sorriso é o melhor luto para os que desejam nosso mal, significa que permaneceremos vivos.
Se você divide em vez de unir, separa em vez de juntar, cuidado: pode ser um deles.

Queremos apenas respirar nosso ar, que não é nosso, mas de todos. Alguns compartilham tanto ar para outros que torna os oxigênios engasgáveis em espaços que apenas respiram seu próprio ar pelo condicionamento ilusório de separação e medo do que nunca conheceram. Eu sou teimosa e acredito no ensinamento do sol que ilumina todos sem distinção. Não acredito em segregação mas na potencialidade que as diferenças são em mostrar que todos são de fato iguais. Entre sensíveis ou insensíveis todos se sentem habitando corpos humanos frágeis. Tudo que dói é nosso ego, a fragilidade que não permite abrir a vida pra uma consciência maior e plena. Segregando diferentes e fazendo 'nossas próprias gangues' não veremos evolução, apenas o mesmo do mesmo. Quero estar onde todos são TODOS sem distinção de origem, classe, credo, idade, personalidade, intensidade, tamanho, escolaridade. Onde não existe superioridade mas amor em abundância em um sol tão pleno capaz de cegar a escuridão.


Renata Tupinambá é jornalista, produtora, poeta, consultora, curadora, roteirista e artista visual. Fundadora da produtora indígena Originárias produções. Colaboradora do Visibilidade Indígena. 

Há mais de 13 anos atua na difusão das culturas indígenas e etnocomunicação por meio de projetos. Membro do Útero Amotara Zabelê no território Tupinambá na Bahia. Criadora do podcast Originárias, primeiro no Brasil de entrevistas com artistas e músicos indígenas, que integra a central de Podcasts femininos PodSim. Atualmente trabalha também na produção de artistas e músicos indígenas.

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