Seis poemas
Renato Negrão
1.
chocar o galinha
o amigo
o turista
chocar o polícia
o mamãe
o ladrão
chocar o eletricista
chocar o zezinho
é a coisa mais fácil que há
o crítico choca-se a si próprio
chocar o ídolo
é preciso
já ao artista
chocar
não é preciso
2. coisinha
temos aqui
muito categoricamente
aquilo que podemos relacionar
acerca das nomeações
inomináveis
inumeráveis
nomeações
sendo
para o momento
necessário somente a menção
daquele que bate
uma punhetinha todo dia
e é chamado securinha
considerado normal
podendo
se mamãe descobrir
e se o vizinho psiquiatra intuir
ser chamado
de transtorninho compulsivozinho punhetil
há porém aqueles
que batem uma punhetinha louquinha
agachado sobre cenourinha
e pode ser chamado de transtorno
compulsivozinho punhetil leguminal
outro comportamento avaliado
é o transtorno
da simulação de que caiu
na teia do homem aranha
travou luta e resignou-se
ao estupro do super herói
chamado transtorno de resignação
sexual ambígua ao herói aranha
o transtorno da ninfa selvagem
deglutidora de garotas virgens
sobre camas de alfaces
é outro dado que se pode avaliar
estudar comportamento semelhante
mas de produto variante
a de casais que dormem sobre fatias de bacon
transtorno do exibicionista que ejacula pela janela
transtorno da vovó que transa de gravata
transtorno que quem transa somente no dia trinta
transtorno de quem transa somente nos anos bissextos
transtorno de quem nunca foi além do papai-mamãe
transtorno de quem acha que só se pode
transar de noite e no escuro
transtorno este
transtorno aquele
3.
o exercício de lamber parede consiste
em lamber parede
4. panelaço panelinha
panelaço
manifestação
coletiva e ruidosa
de protesto de
natureza
política ou social
em que se percutem
utensílios de metal
panelinha
conluio
para fins pouco sérios
grupo de políticos que
no poder
procuram obter
vantagens
individuais
grupo literário
muito fechado e unido
e dado
ao elogio recíproco
súcia
conluio
5.
porque fiz o que fiz o que fiz
e se fiz está feito
é que deu no que deu
e ele não tem defeito
derreti de repente
derrapei num rompante
apostei numa tola
atolei numa lama
estou átono atônito
afoito afônico
no posto de apóstolo
pitada de alpiste
só uma fã numa festa
no afã de uma sexta
carrossel automóvel
ela é vã e eu sou besta
6.dada
- futebol é o seguinte
chegou ali e tem tranquilidade
é só aplicar o sutil o mirabolante
a raiz quadrada o labirinto
que não tem jeito pro goleiro não
é cair e levantar para buscar
o caroço lá dentro.
- que negócio é esse de sutil
mirabolante e raiz quadrada
- não posso dizer
é segredo profissional
outro dia criei mais um gol
o independência
poesia é o seguinte
chegou ali e tem tranquilidade
é só aplicar o sutil o mirabolante
a raiz quadrada o labirinto
que não tem jeito pro leitor não
é cair e levantar para buscar
o caroço lá dentro
que negócio é esse de sutil
mirabolante e raiz quadrada
não posso dizer
é segredo profissional
outro dia criei mais um poema
o independência
Renato Negrão, BH/MG é poeta e compositor, artista visual e arte educador. Ministra cursos de criação literária e produz trabalhos em que investiga as relações entre palavra e imagem, valendo-se de aspectos da comunicação poética e estratégias da arte contemporânea como legado pedagógico para a educação, recebendo por este trabalho o prêmio Itaú Rumos educação, cultura e arte 2008/2010. Licenciou-se em Educação Artística pela Escola Guignard - Universidade do Estado de Minas Gerais. Publicou sete livros de poemas, entre eles, Odisséia Vácuo, 2017, A lo Mejor, Buenos Aires, 2014 e Vicente Viciado, 2012. Integra a Retendre la corde vocale: Anthologie de la poésie brésilienne vivante, organizado por Patrick Quillier, publicado na França. Como artista performador, participou dos Festivais Internacionais de Arte Digital, de Arte Negra e da MIP - Manifestação Internacional de Performance, entre outros. Possui gravações e parcerias musicais com compositores da cena brasileira contemporânea: Alice Ruiz, Antônio Loureiro, Estrela Leminski, Makely Ka, Sérgio Pererê, Kristoff Silva, Juliana Perdigão. Assinou as curadorias do Circuito Literário Praça da Liberdade, com Maria Esther Maciel, Fabiola Farias e Dagmar Braga, do e com Izadora Fernandes, a curadoria do Ciclo de Literatura Contemporânea, edições 2019 e 2020. Em 2018 participou do Circuito Sesc Arte da Palavra percorrendo seis estados Brasileiros ministrando Oficinas de Escrita Criativa.
Leia também
- Dalva, Lilia Guerra
- As mãos daquele cara, Carlos Eduardo Pereira
- Sob o caminho uma rajada de ventos (trecho), Karine Bassi
- Conceição,
Valeska Torres
- Três poemas inéditos, Marcelo Ariel
Entrevistas
Vê Só