Poemas

Maria Eduarda Lima

boneca

tia glenda
enfia os dedos
no pote amarelo
enche de creme e
passa em meus cabelos
negros
como nossa pele

árida

tia glenda cospe lágrimas
a cada passada em meus cachos
me diz que estou bonita
que sou boa

menina

tia glenda termina
e me põe um laço
rosinha

depois me ergue a mão
me acompanha até a porta

vejo o carro preto
os vidros fechados
meu senhor está ali

cigarro de filtro amarelo
o carro cheira

gasolina

entro no banco de trás
onde tem uma
boneca

tia glenda olha firme para
o senhor
o meu
senhor

me pede para ter cuidado
e voltar

inteira


Mufino

A pele magra
Rígida
Seca

Nem parece a moça quente
Com ácido na língua
e vestido de roda

Tudo mudou até o nome
Era Maria Dolores
agora um mufino Madô

O brilho se perdeu
O vestido não dança
O cigarro apagado

Tudo nela
parece minguado

Dizem
Que numa terça-feira à noite
De vez em quando
ela põe a cabeça na janela

E se for noite de lua
dá para ver

a faísca 


MARIA EDUARDA LIMA cresceu na praia do Janga, em Pernambuco. Morou em Recife e hoje reside em São Paulo, onde trabalha, estuda e escreve. É jornalista e trabalhou durante 10 anos na área da comunicação. Membro do Departamento Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, atende adultos e adolescentes. Acredita piamente que as palavras curam e que a escrita é uma catarse de afetos. Em abril, lançará Cutícula, seu primeiro livro de poemas, pela Rizoma Projetos Editoriais. 

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