O caso do homem errado
Camila de Moraes
No Brasil, a cada 23 minutos um jovem negro é executado por conta da cor da sua pele. Eles têm entre 15 e 29 anos. Em dados estatístico são sete homicídios a cada duas horas, 82 por dia, 2.500 por mês, 30.000 por ano, 77% dos jovens assassinados no país são negros, mas para além de estáticas permanecemos na luta para dizer que nossos corpos não são apenas números.
Com este argumento de "Vidas Negras Importam", surge o documentário O Caso do Homem Errado que aborda a questão do extermínio da juventude negra. O longametragem, lançado em 2017, retrata a história do jovem operário negro Júlio César de Melo Pinto, que foi executado pela Brigada Militar, em 1987, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. O crime ganhou notoriedade após a imprensa divulgar fotos de Júlio César sendo colocado com vida na viatura, na época o fusca 285, e chegar 37 minutos depois morto, a tiros, no Hospital de Pronto Socorro.
Após a união do movimento negro, do movimento de
direitos humanos e da imprensa, a luta pela importância da vida de pessoas
negras permanece ainda, nos dias atuais, como uma frente de batalha, pois se
passaram mais de 30 anos e jovens negros continuam sendo assassinados pelas
forças de segurança do país. Somos
cidadãs, cidadãos, temos famílias, compomos a estrutura da sociedade brasileira
que ao eliminar um de nós abala toda a camada social. Aprendemos com o
movimento negro "nenhum passo atrás, nem para dar impulso", por isso seguimos
na luta pelo nosso bem viver com dignidade e utilizando da ferramenta do
audiovisual para ampliar o debate.
Camila de Moraes é jornalista e graduanda no curso B.I. de Artes
com concentração em audiovisual pela Universidade Federal da Bahia. Na área do
cinema dirigiu o documentário de longa-metragem O Caso do Homem Errado, que aborda a questão do genocídio da
juventude negra no Brasil. A cineasta se tornou a segunda mulher negra a entrar
em circuito comercial com um longa-metragem após 34 anos de silenciamento no
Brasil. Aclamado, o longa esteve na seleta lista de pré-selecionados pelo
Ministério da Cultura para representar o Brasil e concorrer ao prêmio de Melhor
Filme Estrangeiro no Oscar 2019. Atualmente desenvolve o projeto de uma série
de ficção chamada Nós Somos Pares que
aborda a vida de seis mulheres negras e suas relações de amizade e amores.
Camila de Moraes também dirigiu o curta-metragem A Escrita do Seu Corpo, que trata sobre a questão da identidade
racial e de gênero por meio da poesia. Produziu e co-roteirizou o documentário Mãe de Gay, vencedor de dois Galgos de
Ouro no Festival de Gramado. Fez produção do curta-metragem de ficção Marcelina - com os olhos que a terra há de
comer, de Alison Almeida, e assistência de produção do documentário Poesia Azeviche, de Ailton Pinheiro.
Camila de Moraes é gaúcha, mas reside em Salvador há dez anos.
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