Meu caderninho florido

Marcelino Freire

[50 anotações de todo tipo]


[1]

Faça amor.
Não, faça guerra.

[2]

O adeus é o que fica.


[3]

No fundo do mar
nosso navio.


[4]

A saudade já estava aqui
quando eu cheguei.


[5]

Devia nascer uma mãe
quando uma se vai.


[6]

Meu pai agora sou eu.


[7]

Se foi amor
se foi.


[8]

Rosa disse sim
ao anão do jardim.


[9]

No coração da árvore
deu cupim.


[10]

Fodia e noite.


[11]

- Põe.
- Só se for os ovos.


[12]

- Diz que me ama.
- Aí é mais caro.


[13]

O amor estraga
qualquer romance.


[14]

- Posso enfiar o dedo no seu cu?
- Seu dedo está limpo?


[15]

Não cospe, porra,
engole.


[16]

Casar os outros é
a punheta do padre.


[17]

Apaga meu fogo
com a língua.


[18]

- O que você faz com esse pinto na mão?
- Vou cozinhar.


[19]

Se eu soubesse
que iam chorar tanto,
teria me matado antes.


[20]

Tenho saudades de chamar
seu nome pela casa.


[21]

Asilo é o hospício do amor.


[22]

Diz que ama São Paulo
mas só quer sexo.


[23]

Assim que fecharam o caixão,
o coração voltou a bater.


[24]

Faz tempo que não se beijava
no espelho.


[25]

O amor não tem preço.
É o preço que se paga.


[26]

- Por que você nunca diz eu te amo?
- Porque você nunca diz eu te amo.


[27]

Adeus ao diabo.


[28]

O primeiro amor da minha vida
sou eu.


[29]

O amor nasce e morre
na infância.


[30]

Pedi que ele desse um tempo.
Nem isso ele deu.


[31]

Relacionamentos abertos.
Os primeiros a fechar na quarentena.


[32]

- Vou gozar.
Avisei para mim.


[33]

- Me come, vai.
E a terra comeu.


[34]

O melhor leitor é o infiel.


[35]

Um coração não precisa bater
para a gente ouvir.


[36]

Doeu, lírico.


[37]

A literatura é panfletária
da solidão.


[38]

A saudade é manuscrita.


[39]

Olhai as minhocas do campo.


[40]

Tudo que faço é
decoração.


[41]

A palavra mora onde
você se esconde.


[42]

Todo dia eu lembro de você.
Menos hoje.


[43]

Um mendigo entende mais de amor
do que de fome.


[44]

O coração é o primeiro que bate
em disparada.


[45]

Dê homem
para homem.


[46]

Há sempre dois corpos
debaixo da cama.


[47]

Aquele cachorro balançou o rabo
para mim.


[48]

Amor prato prato prato
pra toda vida.


[49]

Foram defeitos
um para o outro.


[50]

Moral da história:
fodeu.


foto: Marcos Del Fiol

Ilustração do texto: Marcelino Freire

Marcelino Freire nasceu em 1967 em Sertânia, PE. Vive em São Paulo desde 1991. Escreveu, entre outros, "Angu de Sangue" (Ateliê Editorial, 2000), "Contos Negreiros" (Prêmio Jabuti 2006, Editora Record, também publicado na Argentina e no México) e "Nossos Ossos" (Prêmio Machado de Assis 2014, Editora Record, também publicado em Portugal, na França e na Argentina). Em 2004, criou e organizou a antologia "Os Cem Menores Contos Brasileiros do Século" (Ateliê Editorial). Vários de seus livros foram adaptados para o teatro. É o criador e curador da Balada Literária, evento que acontece anualmente em São Paulo desde 2006. É conhecido também por suas oficinas de criação literária. Para saber mais sobre o autor, acesse o blog Ossos do Ofídio: marcelinofreire.wordpress.com 

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