A RevistaRia
A revista virtual da Ria Livraria
Editorial
Direção Geral: Marcos Benuthe
Direção Executiva: Morgana Kretzmann
Coordenação Editorial: Morgana Kretzmann e Ian Uviedo
Produção e diagramação: Jarbas S. Galhardo
Vozes de hoje e sempre
A oitava edição da RevistaRia traz, com muita honra, grandes vozes da nossa literatura, que precisam ser mais escutadas, mais lidas, não só hoje, mas sempre. Escritoras e escritores consagrados, outros que estão começando sua caminhada e já vêm ganhando aplausos e o mais do que merecido destaque na cena nacional.
Nesta edição de novembro, mês da Consciência Negra, convidamos autoras e autores negros dos quatro cantos do Brasil, que trouxeram seus contos, trechos de livros, poemas e artes. Ainda há entrevistas que são sempre uma forma de celebrar os grandes nomes das artes do nosso país.
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A conscientização de todo sofrimento que a população negra viveu durante mais de trezentos anos de escravismo no Brasil, mas, sobretudo, da resistência, está no centro desta data, o 20 de novembro. Nenhum outro país do mundo recebeu tantas pessoas escravizadas quanto o nosso país, foram 4,9 milhões de mulheres, homens, crianças arrancadas da África, sequestradas, traficadas como mercadorias. O Brasil também foi o último país do mundo a dar fim oficial à escravidão.
O dia 20 de novembro não foi escolhido fortuitamente, e sim por ser a data da morte de Zumbi dos Palmares, líder quilombola que abrigava escravos que escapavam do cárcere, da opressão sistêmica, e que, segundo a tradição, veio a falecer no dia 20 de novembro de 1695. Na década de 1970, ativistas ligados a movimentos negros e grupos de quilombolas do Rio Grande do Sul passaram a reivindicar esta data como parte importante do processo para se pensar a consciência negra e a luta contra o racismo no país.
Somente no ano de 2011, através da Lei nº 12.519, é que a data passou a ser feriado nacional. Nela, entretanto, foi facultado que estados e municípios decidissem se a acatariam ou não. O Rio Grande do Sul, estado onde o movimento começou, é um dos poucos estados brasileiros que não aderiram ao feriado, nem sequer algum de seus municípios. A propósito, o feriado da Consciência Negra foi declarado inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul; o pedido veio justamente do sindicato dos lojistas e comércio da capital, atendido pelo desembargador relator e acompanhado pela maioria da câmara.
Diferente do que disse o nosso vice-presidente, o ex-general do exército Hamilton Mourão, que aliás é um homem pardo miscigenado, portanto um homem negro - pardo como 46,8% da população, segundo o IBGE -, o racismo existe e está presente todos os dias, em todas as horas, em todos os minutos de nossa realidade nacional, oprimindo e matando a população negra.
Uma pessoa negra é morta a cada 23 minutos no Brasil.
Mulheres negras são as que mais sofrem com a desigualdade social, são as que mais sofrem violência doméstica, são as que mais sofrem feminicídio, são as que mais sofrem assédio e abuso sexual, são as que ganham os menores salários e aqui entram duas questões: raça e gênero, racismo e sexismo.
Claro que fizemos esta edição pensando na celebração desses nomes tão importantes para a nossa literatura, mas diante do pensamento racista que vem se alastrando cada vez mais em nosso país e no mundo, não podemos nos calar e deixar de mostrar nossa indignação e repúdio a todo e qualquer crime motivado pela cor da pele de uma pessoa, que, infelizmente, vem marcando o modo de se estruturar da cruel sociedade brasileira há mais de 400 anos.
Então
invocamos aqui Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus, Geni Guimarães,
Ruth Guimarães, Angela Davis, Maya Angelou, Teresa Cárdenas, Beryl GilRoy, Lima
Barreto, Machado de Assis, Amiri Baraka, Nelson Maca, Noémia de Sousa, Maria
Firmina dos Reis, Paulina Chiziane, Alice Walker, Bell Hooks, Chimamanda Ngozi
Adichie, Cruz e Souza, Carlos de Assumpção, Cidinha da Silva, Paulo Lins,
Cristiane Sobral, Cuti, Esmeralda Ribeiro, Oswaldo Camargo, Plínio Camillo,
Ricardo Aleixo, Itamar Assumpção, Zezé Motta, Elza Soares, Jarid Arraes,
Gilberto Gil, Lubi Prates, Milton Nascimento, Luz Ribeiro, Luiz Melodia,
Roberta Estrela D'alva, Miles Davis, Alice Coltrane, Elisa Lucinda, Abdias
Nascimento, James Baldwin, Adão Ventura, Nina Simone, Ella Fitzgerald, Stela do
Patrocínio, Dudley Randall, Audre Lorde, Aimé Césaire, Sarah Maldoror, Nelson
Mandela, Maria Auxiliadora, Frederick Douglas, Victoria Santa Cruz, Antonio
Vieira, Solano Trindade, Langston Hughes, Gil-Scott Heron, Léopold Sédar
Senghor, Mano Brown, Black Alien, Sabotage, Djamila Ribeiro. Invocamos toda
essa crescente constelação de nomes para que a obra, a vida e a visão destes
artistas sejam os guias não só da nossa revista, que esperamos que seja bem
recebida por todos nossos leitores, mas guias nas artes, nas concepções de
mundo, nas resistências necessárias. Hoje e sempre.
Leia também
- Dalva, Lilia Guerra
- As mãos daquele cara, Carlos Eduardo Pereira
- Sob o caminho uma rajada de ventos (trecho), Karine Bassi
- Seis poemas, Renato Negrão
- Conceição, Valeska Torres
- Três poemas inéditos, Marcelo Ariel
Entrevistas
Vê Só