Página por página
contos, crônicas, entrevistas, poemas, ilustrações e demais expressões de um recanto literário
Das coisas e dois elefantes azuis virados de costas
Renata Belmonte
Eu até tinha uns trocados, mas sabia que o sinal já ia abrir, então falei: fica para a próxima. Ela me lançou um olhar ofendido como se me perguntasse: e quando é a próxima? Será que você não vê que uma velha como eu não tem próxima? Com essas condições, você acha que ainda vou viver muito para esperar a sua próxima?
Uma vez e outra também erro
Michelli Provensi
Ela acredita que vagalumes são materializados pelo inconsciente coletivo. Eu da minha parte desconfio de parentes de besouros que só os machos são alados, mas acho lindo escuro e pirilampo. Ela odeia falar pirilampos. Diz que dá vontade de fazer pipi.
sufocada pela desmemória
Resenha do livro Cheia, de Natália Zuccala
por Laura Redfern Navarro
Afinal, talvez o mais angustiante de todo o romance não seja o esquecimento de Amanda acerca dos fatos, mas dela mesma. Assim, a presença de diversas violências que a atravessam sejam conflituosas, essencialmente, por lembrarem a protagonista de si própria, ou, ainda, de sua realidade.
Afinal, talvez o mais angustiante de todo o romance não seja o esquecimento de Amanda acerca dos fatos, mas dela mesma. Assim, a presença de diversas violências que a atravessam sejam conflituosas, essencialmente, por lembrarem a protagonista de si própria, ou, ainda, de sua realidade.
O balão amarelo
Lima Trindade
Meu bem, agora, falava animado. Eu não o ouvia. De repente parou, deteve os olhos em mim e se virou de costas. Procurei o balão no céu. Ele já avançava sobre os postes de luz improvisados. E recordei da estranha manhã em que eu era muito pequeno e mal tinha aprendido a andar.
Foto: Marcelo Frazão
Poemas
de Daniela Avelar
uma criança constrói uma torre
para ser destruída:
alegria
pelos blocos que se espalham no chão
Foto: Tiago Luz
Para que afinal se faça luz!
Resenha do livro Para os que ficam, de Alex Andrade
por Krishnamurti Goes dos Anjos
Um escritor que se preze terá sempre e incansavelmente que retomar, reabrir e redimensionar temas, segundo sua visão-de-mundo. Indagações, perplexidades e desesperos humanos estão sempre a convocar e atualizar os temas básicos da existência.
O engodo de Laura
Andreas Chamorro
Laura reparou num monumento metálico, como dois grampos gigantes de papel que dançassem juntos. Três homens tomavam banho com a luz daquela manhã de dez de agosto deitados de olhos fechados, as roupas pretas e quentes, as peles imundas: poeira presa à semanas de suadeiras. Laura, você poderia estar na rua.
Pode uma corpa gorda gozar?
Ensaio sobre o livro Soluções de dois estados, de Michel Laub
por Euler Lopes
Sem maniqueísmos, o que temos é uma deliciosa personagem gorda, que se utiliza da ironia para defender suas ideias e que se, por um lado, não nega a sua existência e o que isso gera; por outro, apresenta suas ambiguidades.
Sem maniqueísmos, o que temos é uma deliciosa personagem gorda, que se utiliza da ironia para defender suas ideias e que se, por um lado, não nega a sua existência e o que isso gera; por outro, apresenta suas ambiguidades.
Poemas
de Maria Eduarda Lima
tia glenda cospe lágrimas
a cada passada em meus cachos
me diz que estou bonita
que sou boa
tia glenda cospe lágrimas
a cada passada em meus cachos
me diz que estou bonita
que sou boa
O vaso
Renata Fiorenzano Marques
Brincava com a primalhada, em número maior a cada ano. Tinha o primo do primo. Tinha o "esse também deve ser teu primo". Todo mundo virava primo nas brincadeiras de rua, futebol, abafa, peteca, pique-tá. Passados uns dias, nem me lembrava mais de São Paulo.
Rara flor ferida
Fabio Santiago
Seria poesia
a ferida
que habitava o meu pé ferido?
Foto: Angela Grochocki Santiago
Farpas
Resenha de Júpiter Marte Saturno, de Irka Barrios
por Juliana Cunha
De contos fortes, sintéticos e sem metáforas óbvias, é difícil dizer sobre o livro, é mais fácil senti-lo. É ser ferido por uma farpa.
De contos fortes, sintéticos e sem metáforas óbvias, é difícil dizer sobre o livro, é mais fácil senti-lo. É ser ferido por uma farpa.
Minchoni elabora reflexões teóricas sobre as relações entre o poeta e o palhaço, os brincantes, partindo de sua experiência de mais de 20 anos como poeta da fala
Foto: Renato Nascimento
Coronárias: mulheres escrevem a pandemia
Fernanda Hamann
O testemunho de Levi me ensinou que, numa guerra, o escritor é o mais importante. Porque pode afetar as pessoas, gerações de pessoas, e fazê-las pensar que as guerras nem deveriam acontecer.
Poemas
de João Nunes Junior
o dólar a quase 6 e nós
aqui lidando com as estrelas
enquanto o suor retorna
para as cavernas do amor.
Há de brotar asas dentro de nós
Resenha do livro Nem sinal de asas, de Marcela Dantés
por Euler Lopes
A personagem de Dantés é extremamente humana, e talvez por isso, ela tenha asas invisíveis que crescem como nódulos prestes a transformá-la em múmia, em corpo cristalizado, em morte.
Leia também, as edições anteriores
Edição #1
Edição #3
Edição #4
Edição #5
Edição #6
Edição #7
Edição #8
Edição #9
Edição #10
Edicção #11
Edição #12
Edição #13
Edição #14
Edição #15
Edição #16
Edição #17
Edição #18
A aterrorizante edição dedicada à Literatura de terror trouxe contos de Irka Barrios, Edvaldo Ramos Leite, Márcio Benjamin, Caroline Joanello, Alice Priestly, Santiago Santos e Wesley Barbosa, um artigo de Oscar Nestarez, a arte de Tainan Rocha e uma entrevista com Irka Barrios.
Edição #19