Rosa das Neves

8:00

ele aponta a arma para minha cabeça

um telescópio mirando um buraco negro

sem estrelas                            para caim!


baculejo

mochila nike -

zíper estragado

demolição do seu bairro

de pranto

o órgão burro

em seu braço

canhoto

um monumento

derrubado, seu estado

de antes

o de encanto



e deixa

deixa a arma, primo, deixa o peso da arma

longe das mãos

deixa a arma, primo, deixa a morte da arma

longe da minha

- ou aquele good bye escorrerá também

aqui, pelos dedos vê

quando digo - lenços não se abanam solamente

nossas mãos nunca se dão e

tudo está bem

e nada está bem

- o limão do meu sangue há de limpar

a ferrugem, ou

o sabão

o álcool

a soda cáustica

e o peso da arma não sai das mãos

mas deixa

a morte da arma não sai das mãos

mas deixa

a arma não sai das mãos mas deixa

quando é difícil segurar este peso

sem sair atirando

e sobrepõe a sua uma outra mão

e a outra mão está usando minhas mãos

como suas



segura

a arma

- é pesada mas estranhamente bonita,

sinto que escrevi coisas assim ao longo da vida

para respirar novamente

e me livrar, perdendo-me em medo ou

nisso, - pesada e estranhamente

bonita - na sentença

apontada, imagino a festa nas ideias -e passo por aquele parque

de diversões, lawrence -

depois deixo-a num postal branco

depois um corpo alçando conclusões da varanda

enfim, tudo na mesma

o que fica não emagrece muda o rosto

um peso similar à beleza desta coisa tanta

a busca é, permanência, sempre o espetáculo novo,

algo que reviva - a releitura de uma velha história

que fizesse o teatro incendiar - um morto

com novos olhos para chorar em meu nome



11:00

agora

estou de carona nas mãos que me guiam

movimentos no estômago e não é fome

o rumo destes passos não são da fome

estou de carona nas mãos que me guiam

algo mexe no estômago e não é frio, também

se rumasse direção ao frio não precisava,

nos encontraríamos

o que mexe não se sabe, se dói, se pranto,

até canta

solto as mãos que me guiam, nesta hora


nota: todos estes textos pertencem ao meu novo livro Trote e são dedicados ao meu primo R.)

Foto de Maria Jeltrusia, edição em p&b por Gael Silvério. 

ROSA DAS NEVES é artista literário. Licenciando-se em Letras pelo IFG. Dos Coletivos Fiasco e Goiânia Clandestina. Está presente em algumas antologias. Autor do E-Book Dança comigo enquanto eles dormem (poesia, 2020) pelo selo Fiasco e do livro Avião de Papel (poesia, 2021) pela editora Nega Lilu. De vez em quando faz uns vídeos líricos. Quando seu computador estava vivo costumava fazer umas Lives de escrita instantânea intituladas Quem sabe faz ao vivo.

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