LUTO
Paulo Scott
Luto para esquecer você da maneira mais adequada dentro da igreja que comecei a construir logo depois que o conforto elétrico do susto inesquecível, a casca protetora da ressurreição, passou. Igreja que tem sido, desde o momento em que acordo, um enorme piso, talvez uma enorme quadra de basquete em que seu olhar ocupa todos os tamanhos de parede e todas as portas de entrada e as cores móveis nos letreiros do placar, uma conversa que só é possível por meio das pedras. Luto pelo nosso amor e, mais ainda, pela nossa amizade - que seja fogo nosso esquecer. Zelo. Por essa invenção em torno da dor, por esse emendar das vozes, de todas as palavras e sorrisos e abraços. Luto para acordar nesta nova pessoa que sou, nessa intermitência sem precedentes, inventado e fortalecido, nesta nova pessoa (e nesta tarefa) que você deixou para mim.
Paulo Scott é poeta, autor de sete livros - os mais recentes são
Se o Mundo é Redondo e Outros Poemas (Lisboa: Gato Bravo, 2020),
Garopaba Monstro Tubarão (São Paulo: Selo Demônio Negro, 2019) e Mesmo
Sem Dinheiro Comprei um Esqueite Novo (São Paulo: Companhia das Letras,
2014). Seus trabalhos estão publicados em Portugal, Inglaterra, Estados Unidos,
Alemanha, Croácia, México, China, França e Argentina.
Foto: Renato Parada
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