Gabriela Ribeiro
strange little girl
a folia passa
e
eu canto
a
folia passa
e
eu deito
os
olhos na rua,
nos
sinais abertos
pouso
as mãos pintadas
nas
esquinas
procuro
uma voz
que
me seja conhecida
verifico
para
então adormecer
naqueles
ombros
nesses
olhos de
amêndoas
uma
cor do desconhecido
a
cor que eu guardo e
que
li dos livros
nas
estantes
cidade
quase
domingo
o
sol amável
cobrindo
as partes
descobertas
de pele
esperando
horas e horas
a
sessão se
abrir
para
podermos, enfim,
mergulhar
no silêncio
escuro
das salas
o
vazio de uma
sala
às
três horas
da
tarde
(os
teus cabelos
não
mais tão
escuros)
elenco
todo o tipo
de
rastros
nas
esquinas -
os
rastros das tais
décadas
modernistas
o
vinho cru e vermelho
despontando
da tua
camisa
longe
discreto
a
má vista me faz
perder
os teus
contornos
(se
eu alcançasse com
olhar
de lince ou qualquer
outro
melhor que este)
intimaria
a ida até
qualquer
mesa
em
qualquer lugar
distante
do silêncio e do
sol
brilhante
das
quatro da
tarde
as
mãos desejosas
e
as sombras nossas
grandes
nas calçadas
neste
quadriculado
desajeitado
repleto
de olhares
que
não se cruzam
quando
esbarram-se
os
dedos das mãos
"desculpe,
desculpe..."
dizem
os amantes
lover
lover lover
(seria
impossível tal
melodia)
na
saída do viaduto
todo
lugar
serviria
eu
gostaria de
repousar
os olhos míopes
no
teu perfil
e
você não me
enxergaria
mais
pois
estou ocupada
bebericando
o último
gole
do sol do
final
desta
tarde
porque
a cerveja
esquenta
e choca
em
copos plásticos
o
anel que brilha
nos
reflexos
nos
dedos finos
longos
inscrita
a última
partida,
as
rotas que dão sempre
para
o mesmo
largo.
à
noite.
os
passos que vão se
movendo
juntos
numa
dança
de
um homem &
uma
mulher
o
largo cheio de
gente
e
fumaça
recolha,
por favor,
os
pedacinhos
perdidos
da
minha vista
na
cidade
no
amor
de
mil outras luzes
acesas
de
cinemas
de
mãos que
não
se desgarram
nas
chuvas
nas
noites.
mayakovsky II
eu
estava aqui sempre mas
ah
meu
corpo de baile
numa
banheira
os
cabelos
consertados
num
crescendo
eu
pegaria, então,
as
melhores roupas
calçados
logo
sairia para a rua
andaria
nestas calçadas
tropicais
e
nas luzes amarelas
dos
postes de
vinte
& nove
e
você estaria
numa
esquina
qualquer
no
centro
da cidade
os
meus olhos
luminosos
(os
teus?)
GABRIELA RIBEIRO atualmente vive em São Paulo e cursa o bacharelado em Letras (Espanhol/Português) na Universidade de São Paulo. Pela Editora Primata, publicou a plaquete "o amor é o fim do cerco" (2021), além de publicação na revista digital Sucuru e no projeto de poesia Totem&Pagu. Também colabora no projeto de publicações independentes Vítimas da Op Art Edições, idealizado por Sandro Garcia.