Bolinhas de sabão
Raimundo Moura
A primeira vez que fiz uma bolinha de sabão, eu ainda estava bem pequenininho. Elas pareciam mágicas. Até então era a coisa mais bonita que eu já tinha visto no mundo.
Tudo era muito simples; bastava uma velha caneca de alumínio, um pouco d'água, um pedacinho de sabão azul em barra e um canudinho de mamona. Antigamente existiam muitos pés de mamona no mato.
Então eu pegava o canudinho, colocava na canequinha, e batia, batia, batia. E soprava bem levemente o canudinho. Dava até pra perceber o ar dos pulmões passando pela parte interna do canudinho, que formava então uma bolha. E esta bolha ia crescendo, crescendo, crescendo, até se transformar numa linda bola de sabão. Grande, transparente, multicolorida e alegre.
De repente, uma brisa leve ia de encontro a minha bolinha de sabão, que se misturava com tantas outras bolinhas de sabão na imensidão do céu azul.
Então eu ficava olhando todas aquelas bolinhas de sabão, e em especial a bolinha que eu tinha feito, claro.
E ela corria, corria, corria e brincava feliz com as crianças no campo, tomando banho de chuva na rua, ou jogando bola.
E subia, subia, subia bem longe... até que sumia. Então eu chorava, chorava, chorava muito.
Às
vezes eu penso que a vida é assim, como bolinhas de sabão. Leve, colorida,
linda, efêmera. Que sobe, sobe, sobe, ganha o espaço infinito e um dia se vai
lentamente, pra nunca mais.
Raimundo Moura é ator, dramaturgo e produtor. Pós-graduado em Arte Educação, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Professor de Teatro formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), e aluno especial de Mestrado nesta mesma instituição. Atualmente participa da Cia. Gente de Teatro da Bahia, já tendo atuado em diversos espetáculos teatral a exemplo de " As Feministas de Muzenza" e " Gusmão, o anjo negro e sua legião - Cia de Teatro da UFBA - 2018", dentre outros, atuou no longa metragem " Café com canela" dirigido por Ary Rosa e Glenda Nicacio, além de ter sido produtor e realizador da 1ª Mostra Negra de Artes Cênicas - no Espaço Cultural Alagados em abril de 2018. Atualmente, é Coordenador do Projeto Libertar pela Arte em Salvador.
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